quarta-feira, 16 de outubro de 2013

JOAQUIM BARBOSA NÃO DESCARTA A POSSIBILIDADE DE ENTRAR PARA A POLÍTICA

Presidente do STF criticou a "mercantilização" dos partidos, defendeu o voto facultativo e candidaturas avu


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, disse ontem que pensa em se aposentar antes do limite legal de 70 anos e não descartou a possibilidade de entrar para a política e disputar a Presidência da República. Aos 59 anos, o ministro negou a intenção de ser candidato em 2014, mas afirmou que, depois de deixar o tribunal, terá tempo para “refletir” sobre o futuro. Barbosa participou do 8º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que termina hoje, e reúne 1.300 pessoas de 87 países na PUC-Rio.

O ministro criticou a “mercantilização” dos partidos políticos, defendeu o voto facultativo e candidaturas avulsas, sem filiação a legendas, e atacou a “cultura jurídica complacente com a impunidade”. Barbosa fez apresentação de 15 minutos sobre o tema “Avanços e retrocessos institucionais no Brasil” e respondeu a perguntas de jornalistas. “Não tenho no momento nenhuma intenção de me lançar candidato a presidente. No futuro, terei tempo para pensar nisso”, disse Barbosa sobre o possível ingresso na política. “Nunca cogitei (entrar na política), sempre tive carreira técnica. No dia que eu deixar o tribunal, terei tempo para refletir sobre isso”, afirmou. Questionado se exerceria o cargo de ministro do STF até os 70 anos, respondeu: “Acho muito difícil”.

Barbosa evitou responder se tem simpatia por algum pré-candidato à Presidência da República. “O quadro político-partidário não me agrada nem um pouco”, afirmou. “O voto obrigatório, a impossibilidade de candidaturas avulsas, o excesso assombroso do número de partidos, a mercantilização partidária, o coronelismo e o mandonismo na estrutura interna de certos partidos: eis um catálogo dos problemas do sistema político brasileiro”, discursou Barbosa. “No plano da organização institucional, a reforma política é o mais premente e árduo de todos os desafios . A natureza tortuosa do sistema político, movido por um combustível nada limpo, com dinheiro de origem duvidosa, tem causado a grande desafeição do cidadão à política”.

Presidência
Depois da palestra, o ministro brincou diante da pergunta sobre possível candidatura presidencial em 2018. “Em 2018 quero estar em uma boa praia”, disse Barbosa, nomeado para o Supremo em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do STF criticou as instituições competentes por não levarem adiante investigações de denúncias feitas em reportagens e também a imprensa, por deixar os temas “caírem no esquecimento”. Barbosa citou a “ausência de pluralismo” como um dos “desafios mais cruciais” do jornalismo e deu o exemplo do baixo número de repórteres negros e mulatos.

“Há uma nuvem de silêncio sobre essa questão. É extremamente prejudicial para quem sofre. É preciso conscientização de quem tem poder de decisão, dos proprietários dos meios de comunicação, dos diretores de redação, que têm o poder de recrutar. O mercado sozinho não vai resolver. A discriminação racial é algo instintivo. Basta dar uma olhada no panorama audiovisual brasileiro”, disse.

Em entrevista após a palestra, Barbosa, relator do processo do mensalão, estimou em “três ou quatro meses” a duração do julgamento dos embargos infringentes concedidos a 12 réus e evitou comentar as discussões públicas com o ministro Ricardo Lewandovski, revisor. “Isso passou, não tem nenhuma importância, são coisas da vida”, declarou.

O congresso da Abraji, que acontece em conjunto com a 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo e a 5ª Conferência Latino Americana de Jornalismo Investigativo, começou no último sábado. Fora das atividades oficiais, haverá hoje um debate sobre violência contra jornalistas organizado pela Unesco e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

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